O que é público é de todos

Esse fim de semana Porto Alegre ficou chocada com o absurdo que ocorreu na Cidade Baixa, onde um motorista jogou o carro em cima e saiu atropelando ciclistas que participavam da Massa Crítica, um evento que procura promover a bicicleta como meio de transporte urbano.

E, como é natural, apareceram várias pessoas criticando os ciclistas por “fecharem” a via pública, não deixando os carros passarem. Dizem não defender o motorista irresponsável, mas ao mesmo tempo colocam parte da culpa sobre os ciclistas, pois estes invadiram o espaço que é de automóveis. E, ao mesmo tempo que aparecia esse argumento, o ClicRBS colocava uma enquete no ar perguntando se ciclovias eram a solução.

Infelizmente ciclovias não são a solução. A solução na verdade está como sempre na educação, na conscientização de que o argumento de que as ruas são para os carros é completamente errado. As ruas são consideradas o espaço público por excelência não a toa, há um sentido para isso: elas são espaços para locomoção e interação. E essa locomoção pode se dar por meios mecânicos, mas não apenas. Por motivos de segurança existem as calçadas, que são um espaço nas ruas reservado aos pedestres, e tão somente aos pedestres. No mais, se a pessoa está fazendo uso de um meio de locomoção (excetuando talvez as cadeiras de roda) o seu lugar é na rua. Isso não é manha ou birra de algum governante: é uma forma de proteger o pedestre.

E é aí que está a questão: cabe à pessoa que está no veículo mais resistente respeitar e tomar cuidado com aqueles que estão em uma situação mais vulnerável. Na nossa cultura, onde o carro é um instrumento de afirmação, se vive uma situação em que se você não está fazendo uso de um veículo motorizado (seja moto, ou carro, ou caminhão, ou ônibus) na rua você está errado, está “atrapalhando”. E com isso quem optar por um meio de transporte mais vulnerável está correndo riscos, como se pode ver no dia a dia: esses são tratados de forma totalmente desrespeitosa, com risco à sua integridade física.

Então, antes de defender a construção de ciclovias, o que se deve defender é a conscientização de que as ruas são espaços para todos, que bicicletas também são veículos de locomoção, e que não é o fato dele não ter um motor que ele está “atravancando” o trânsito.