Flor da idade

Sabe quando dá um quebranto assim no coração e você se sente apequenado diante do resto do mundo? Pois é, era assim que eu me sentia, compadre Hermenegildo, até que apareceu essa dondoca cheirando a flor de laranjeira que é a Amília. Pois sei, pois sei, eu sei que tô velho demais prá guria, mas fazer o quê? Não é você que enviuvou assim de cabrera, quando a sua Dona Marcília tava na flor da vivência, com todo o respeito. Mas deixa eu contá como peguei a preázinha prá mim, vivente, e deixa de fazer essa cara de quem chupou manga verde.

Pois então lhe conto. Tava voltando lá da estância quando vi que num dos meus potreiros a peonada tava toda alvoraçada. Pensei na hora pronto, tão aprontando mais uma com as minhas éguas, você sabe como é essa gurizada né compadre. Me aproximei de mansinho prá pegá toda a tropa no flagrante e não é que dou de cara com essa moleca estendida num pelego, peladinha como bunda de galinha poedeira?!? Ela não se assustou nem um pouquinho, parecia que até tava me esperando. Já a gurizada sumiu tudo que num chiste. Tive pena do garoto Rebardino, que tava no meio das pernas da guria e saiu correndo de bombacha arriada e tudo.

Eu sei compadre eu sei… Eu devia ter colocado a vagabunda prá correr compadre, mas… é que tu não viu a potranquinha! Quando ela viu a gurizada se mandando é que ela começou a se preocupar. Afinal, o senhor sabe que sou conhecido como sendo uma fera. Mas na hora… Eu vi aqueles olhinhos pretos de noite estrelada, aqueles peitinhos que pareciam duas bergamotas pedindo para serem comidas, aquela chauasca, opa, perdão, a intimidade dela entreaberta como porteira de estrebaria e não resisti: ignorei a idade e meti as esporas na égua.

Agora ela tá aqui em casa. Pois é, eu sei… eu sei… tá mais que certo que ela é cheirosinha, maciazinha, tudo que você pode pensar de bonito numa fêmea, mas você sabe também que ela não presta. Toda a noite ela sai por aí prá ir se roçar com um peão qualquer… Mas, se quer mesmo saber, a mim pouco importa. Eu tô velho, não vô fica nesse mundo muito tempo mesmo e, com o devido respeito com a velha que tá lá na estância do céu: mesmo sendo chamado de corno eu vou é me fartar!

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