Precinho de ocasião

Há tempos eu tenho um sonho e esse sonho tem nome: computador barato. O tal do computador popular não é nada mais do que isso: um computador barato. E como eu imagino ele? Para começar ele rodaria Linux. E OpenOffice.org, devidamente traduzido para o português. E Mozilla, também devidamente traduzido. A partir dessa configuração já sei que preciso de no mínimo um chip de 450 MHz, 64 Mb de memória, 4 Gb de disco, um soft-modem que rode no Linux e uma unidade de CD-ROM. Ah, e um drive que é sempre útil. É um computador topo de linha? Não, não é. É um computador ruim? Não, não é. É justamente o computador que eu tenho aqui na minha frente, nesse exato momento. E digo: ele faz tudo o que eu preciso numa velocidade que não me faz arrancar os cabelos. Inclusive eu acho ele bom de usar.

E vale a pena refletir: o que torna um computador caro? Bem, o fato dele ter componentes de primeira é um bom motivo para jogar nas alturas o preço de um computador. Que mais? Simples: o monitor. Sim, o bom e velho monitor. É outro componente que faz com que a máquina pese no bolso. E é aí que eu me lembro do meu velho CP-400 Color II. Qual era o detalhe dessa maquininha? Era que, assim como outros micro-computadores da época, ligado em uma TV. Não, a resolução não era nenhuma maravilha, mas o computador era plenamente utilizável. E quem não tem TV em casa aqui no Brasil? Só eu mesmo (mas tenho um monitor que eu posso usar…).

Daí que eu lembro disso e sempre fico com a pulga atrás da orelha: porque não há ninguém comercializando um computador com peças que não são topo de linha com uma saída para televisores comuns? É possivel ter um computador com duas saídas, uma de vídeo normal e uma para TV, sem encarecer o produto e dando para o comprador a opção de colocar um monitor no futuro, podendo extender que o sistema. Tipo: compre esse computador por 300 reais, e se você quiser gaste um pouco mais no monitor. O quê? Você acha que um computador não poderia sair por 300 reais? Pois eu acho que poderia sim, se a produção fosse feita em série. Série, eis a palavra mágica. Aliás acho que até por 200 reais poderia ser vendido, mas isso numa situação de lucro zero (ou seja: uma empresa estatal com o propósito de dinamizar a inclusão digital).

Agora, pare e pense: 300 reais por um computador útil. Não, não digo um computador topo de linha, algo para fazer os companheiros de lan babarem. Eu falo de um computador que eu posso chegar e digitar o meu texto, fazer a minha planilha, navegar na Internet, mandar meu email, e tudo isso sem arrancar os cabelos devido a alguma demora por parte da máquina. Hoje em dia o que justifica um computador com o poder de processamento que eles tem? Computação gráfica, que requer cálculos e mais cálculos. E onde se usa computação gráfica? Em jogos. Oras, se formos pensar o que temos então? Temos toda uma indústria que coloca computadores na roda para satisfazer aos momentos de lazer de uma elite econômica (ai, agora fiquei parecendo um membro do PSTU…) não para suprir pessoas que necessitam de ferramentas de informática. Ok, há quem precise de um CAD, e CADs precisam de um senhor equipamento, mas sejamos sinceros: quantas pessoas fazem uso de computação pesada? Pois é.

E é nessas horas que eu lamento não ter capital inicial. Adoraria montar uma empresa de computadores baratos, algo para se colocar num Big da vida, transformando aqui no Brasil o que o computador é nos Estados Unidos: um eletrodoméstico. Lá isso é possível graças ao alto nível salarial, já aqui falta alguém que faça nos computadores o que foi feito com os celulares: equipamentos baratos com pagamentos a longo prazo e pequenos valores.

Update: uma coisa que esqueci de comentar… Algo que seria muito interessante num computador desses é a configuração do browser. Em vez de apontar para um provedor ou um portal, a página inicial apontaria para uma página mantida pelos usuários do computador, onde todos poderiam dar dicas, seja de configurações, seja de programas, seja de links. Não seria uma página institucional fazendo propagandas de extensões (essas podem existir, mas em banners ou ad-texts laterais), mas sim uma comunidade. A empresa que bancasse o desenvolvimento de um computador desses teria uma ferramenta de feedback fora de série.

This entry was posted in Sem categoria. Bookmark the permalink.

Deixe um comentário