Ridi, Pagliaccio, e ognun applaudirà!

Pois é, hoje dei de cara com um dos podcasts mais legais que eu já vi, o PodOpera. É um podcast justamente sobre ópera, e apesar de não entender lhufas do que foi falado pela apresentadora Kirsty Young (mezzosoprano e diretora da Hatstand Opera) adorei ouvir o clima descontraído com que o assunto, geralmente sisudo, é tratado. Além disso a interpretação de Soave sia il vento, da ópera Cosi fan tutte de Mozart, é espetacularmente belo. Sim, eis aí um podcast que vou acompanhar com certeza.

Mas o caso é o seguinte… foi ouvir isso e me lembrar de uma das minha ária favoritas, Vesti La Giubba, da ópera I Pagliacci, de Leoncavallo:

Recitar! Mentre preso dal delirio
Interpretar! Enquanto preso ao delírio
Non so piu quel che dico e quel che faccio!
Não sei [mais] o que eu digo ou o que eu faço!
Eppur… è d’uopo… sforzati!
Apesar disso… é necessário… se esforce!
Bah, sei tu forse un uom!
Bah, pensei que você fosse um homem!
Tu se’ Pagliaccio!
Você é um Palhaço!

Vesti la giubba e la faccia infarina.
Veste a jaqueta e enfarinhe a cara.
La gente paga e rider vuole qua.
As pessoas pagaram e vieram aqui para rir.
E se Arlecchin t’invola Colombina
E se o Arlequim roubou sua Colombina
Ridi, Pagliaccio, e ognum applaudira!
Ria, Palhaço, e todos aplaudirão!

Tramuta in lazzi lo spasmo ed il pianto;
Transforma em piadas a angústia e as lágrimas;
In una smorfia il singhiozzo e’l dolor…
Em uma cara engraçada o soluço e a dor…
Ridi Pagliaccio, sul tuo amore infranto!
Ria Palhaço, sobre o seu amor estilhaçado!
Ridi del duol che t’avvelena il cor!
Ria sobre a dor que envenena seu coração!

Assim sendo, dei uma rápida busca na rede e eis que encontro esta versão gravada por Enrico Caruso em 1907 no Archive.org. É incrível a força dramática que ele botou sobre essa peça. Ele transpira desespero, auto-indulgência, deboche e dor. Foi chegar em casa e procurar por outras versões. Encontrei gravações feitas pelo Luciano Pavarotti, pelo Plácido Domingo e até do (argh) Michael Bolton, e nenhuma ganha do velho Caruso. Surpreendente, realmente surpreendente. E eu só espero que um dia as tecnologias de remasterização avancem ao ponto de retirar todos os ruídos dos velhos discos de 78 RPMs. É uma pena que a gente não possa desfrutar o trabalho de tal artistas sem ter que ficar agüentando os chiados.


Como? Caruso era um vulcano?

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