Memória à deriva

Demorou, mas esse fim de semana acabei indo ver Náufrago. Se gostei? Bem, é um filme legal, bom, mas… O Tom Hanks fazendo o papel de sobrevivente não encaixa. Ok, ele pode ter perdido 20 quilos para fazer o personagem, mas isso é o mínimo que poderia se esperar para a história ser verossímel. Mas o fato é: Tom Hanks é limitado, muito limitado. Se você exigir uma carga maior de interpretação por parte dele, como é o caso das conversas com a bola de vôlei, o troço meio que desanda. Ah, e para finalizar: o filme estava tão bom, porque botaram aquele final hollywoodiano? Ainda bem que não chega a estragar todo o resto, como certos finais que se vêem por aí, mas que não precisava não precisava.

Mas falando em ilhas no Pacífico, estou acabando de ler A ilha dos daltônicos, de Oliver Sacks. São dois relatos centrados nas ilhas da Micronésia, um sobre uma comunidade onde um terço da população possuía uma forma aguda de miopia, de tal forma que elas não enxergavam as cores, e outra sobre uma doença neurodegenerativa que atacava inexplicavelmente membros de um grupo social específico. Além de descrever as doenças e seus problemas, o livro se destaca pelas anotações sobre a cultura das ilhas. É incrível parar para pensar e ver que são culturas extremamente antigas, com milhares e milhares de anos, e que hoje não tem quase nada da antiga glória. Mais interessante ainda é ver que são culturas predominantemente baseadas na tradição oral, e que o trabalho de coletar tais histórias para que elas não se percam é algo recente. Cabe aqui pensar o papel da tradição escrita na cultura em geral: em se registrando no papel, a tradição oral se consolida, não dando espaço para novos mitos, como é o caso da origem germânica do daltonismo (hmmmm, leia o livro para entender). O quem conta um conto aumenta um ponto se torna mais fraco, e assim a verdade sobre menos modificações. Se bem que às vezes o mito é mais belo que a verdade… Mas isso já é coisa para se pensar com mais calma outra hora.

E uma rapidinha: Cebion é para se colocar na água, não no leite. O Cebion simplesmente não efervesce, fica lá no fundo do copo se desmanchando de uma forma muito estranha. Sim, dá para tirar o comprimido do leite, lavar em água corrente, colocar na água e tomar depois de um ou dois minutos. Não, não dá para tomar o leite, que fica muito estranho. Pensando bem, vitamina C é um ácido (ascórbico) e leite é alcalino… Resumo da ópera: não inventa moda Charles, e toma o remedinho como todo mundo, guri!

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