:.(…

É dificil dizer o que eu sinto… De todos os aniversários que já tive na minha vida, o de ontem foi o pior, com o pior presente que se poderia ganhar: o falecimento de uma amiga. O meu dia foi tranquilo, até que as 18h20 eu recebi uma chamada de um tal de Aldir, Adair, não consegui pegar o nome direito, dizendo que ele tinha pegado o número do meu celular no telefone de Marina Simon Becker e que ela tinha se acidentado em Sapiranga ao praticar pára-quedismo, e perguntando se eu podia entrar em contato com a família e dizer que eles precisavam ir com urgência no Plantão 24 Horas da Secretaria Municipal de Saúde de Sapiranga. Eu, a princípio, pensei que era uma piada de humor negro, uma pegadinha de aniversário muito das sacanas, mas mesmo assim tentei entrar em contato com a família. Na primeira tentativa não tive sucesso, já que o telefone tocava e ninguém atendia. Tentei novamente alguns minutos depois e aí então consegui entrar em contato com a família, dizendo para a Dona Magda que a filha dela tinha sido hospitalizada. Ela então contou que a Marina tinha saído como o carro da família e que não tinha como ir até Sapiranga antes do marido dela chegar. Assim sendo, como estávamos em Taquara, que fica a uns 15 minutos da cidade, fomos eu e a minha namorada até lá para ver no que poderíamos ajudar. Quando chegamos no hospital é que ficamos sabendo na verdade ela havia falecido. Ela estava descendo de pára-quedas quando ela caiu num fio de luz e foi eletrocutada.

Sabe, na hora veio o baque, a dor de saber que eu havia perdido uma amiga, uma grande amiga, com quem compartilhei muitas alegrias e com quem vivi momentos únicos. Contudo, éramos só eu e a minha namorada ali, sem que houvesse uma pessoa qualquer que pudesse nos dar maiores detalhes: não havia ninguém do Aeroclube, bem como os companheiros que estavam com ela. Assim, cabia a mim entrar em contato com a família e dar a notícia. Respirei fundo, joguei a minha tristeza para o lado e fui em frente. Dei a notícia do óbito para a Priscila, a prima da Marina, que por sua vez iria falar pra Dona Magda. Pouco depois, o pai da Marina (que estava em outro lugar, não na casa dele) me ligou para confirmar se era mesmo verdade o que havia acontecido. Sabe, essa é uma tarefa que eu não desejo nem para o meu maior inimigo: dizer para um pai “Sim, é verdade. Sua filha está morta.” Doeu, doeu muito falar aquilo. Doeu imaginar o rosto do seu Becker do outro lado da linha. Doeu ouvir a respiração dele parar um instante, antes dele dizer um “Obrigado” quase apagado e desligar o telefone.

Lá pelas 21h os pais da Marina finalmente conseguiram chegaram em Sapiranga. A essas alturas o pessoal do Aeroclube já havia aparecido (na verdade após levarem a Marina para o plantão eles tinham voltado pro campo de pouso para buscar o carro dela) e contado melhor o que havia acontecido, que tinha sido o primeiro salto dela, que nesse caso ou se pula com duas pessoas acompanhando ou se prende o pára-quedas no avião e este abre ao se pular (a opção que a Marina escolheu foi essa), que ela estava já a uns 10 metros do solo quando o vento levou ela para os fios, como ela foi resgatada (já que ela ficou pendurada nos fios fizeram uma pirâmide humana para tirá-la) e como os companheiros dela haviam simplesmente sumido (a última coisa que o cara do Aero-clube lembra era ter ouvido eles conversando “Temos que ligar! Temos que ligar!” e terem ido embora. No tempo todo que estivemos lá nenhum dos companheiros dela deu as caras para esperar a família. Revoltante, simplesmente revoltante). Foi nessa hora que fui ver o corpo, acompanhando a mãe da Marina. Na verdade eu não queria, já que sempre que posso procuro evitar no velório de ver a pessoa para me lembrar dela viva, mas a Dona Magda pediu para eu acompanhá-la e não podia me furtar dessa tarefa. Triste, realmente triste, e mais triste ainda saber que o filho da Marina ainda não sabia que a mãe estava não somente mal…

Bem, com a família por lá, não havia muito o que eu poderia fazer. Fui para a casa dos meus pais, onde eles estavam me esperando para me dar os parabéns pelos meus 30 anos, e me dar apoio pela perda da minha amiga… E dessa tragédia toda, não posso deixar de mencionar a mulher incrível que é a minha namorada , que ficou ali do meu lado o tempo todo, me dando forças e me ajudando, seja indo para Sapiranga ontem, seja indo comigo no velório da Marina hoje. Sem ela, acho que eu não teria conseguido segurar a barra e ter ajudado aos pais da minha amiga, que tantas e tantas vezes me receberam bem na casa deles. Muito obrigado. Muito obrigado mesmo. Não é a toa que eu te amo.

Deixe um comentário