Dura lex sed lex

Semanalmente eu devo escrever um texto qualquer para a disciplina de Produção de Texto e ontem resolvi escrever algo que sinto que meus amigos que participam do Massa Crítica não vão gostar muito…

Dura lex sed lex

O habeas corpus, da expressão latina “Habeas corpus ad subjiciendum” (que pode ser traduzido como “Que tenhas o teu corpo”), é uma garantia constitucional que tem por finalidade evitar a coação à liberdade de locomoção decorrente de abuso de poder ou ilegalidade. Ele pode ser liberatório, destinado a afastar constrangimento ilegal à liberdade de locomoção já existente, ou preventivo, concedido diante de uma ameaça à liberdade de locomoção. A Constituição Federal garante a qualquer pessoa o direito de impetrar o habeas corpus em seu favor ou de terceiro, bem como pelo Ministério Público, não sendo necessária a representação por advogado nem tampouco de folha específica. Ainda que preso por “justa causa”, isto é, em flagrante delito ou de cumprimento de ordem judicial, é direito de todo cidadão responder o processo em liberdade.

Muitas vezes a concessão de habeas corpus é motivo de polêmica. Por exemplo, em 8 de abril de 2011 o desembargador Odone Sanguiné concedeu habeas corpus a Ricardo Neis, o funcionário público que em 25 de fevereiro jogou seu carro contra ciclistas que trafegavam pelas ruas de Porto Alegre e que, por conta do seu ato, responde por 17 tentativas de homicídio triplamente qualificadas. Sanguiné argumentou que não há qualquer indicação concreta de que Neis, se mantido em liberdade, ameaçaria testemunhas ou vítimas ou que destruísse provas, de modo que mantê-lo preso equivaleria à antecipação de pena e violaria os princípios de presunção da inocência e da imparcialidade do julgador. Tal argumento não foi aceito pelas vítimas, que se organizaram e fizeram no dia 11 de abril uma manifestação em frente ao Palácio da Justiça, no centro da capital gaúcha. Não faltaram durante o ato acusações de influência política e econômica, e se clamou por justiça.

Contudo, a justiça foi feita. Por pior que tenha sido o delito de Ricardo Neis ele, como cidadão, tem direito ao habeas corpus. Mesmo que isso cause indignação nas vítimas e nos familiares e amigos destas, a Justiça não pode retirar o direito de uma pessoa, principalmente um direito garantido na Constituição. Caso a Justiça o fizesse ela estaria abrindo um precedente perigoso, onde ficaria valendo quem grita mais, e não o que está escrito. Pode-se contestar o que está na lei, mas isso se faz através do processo democrático, não através de protestos e manifestações. É triste dizer isso para as vítimas, mas a lei pode ser dura mas é a lei, e é respeitando ela que se pode esperar ver o acusado respondendo por seu crime de forma legalmente correta.

Bem, que venham as pedradas

Como fazer bonito em Cálculo

Não sei se é por causa da minha idade (afinal já estou no meu inferno astral para entrar na versão 4.0), mas o caso é que até agora fui poupado do “trote sujo” na UFRGS.  Isso pode parecer bom, afinal quem quer ir pra casa com o corpo todo coberto de meleca e coisas fedorentas, além de ser obrigado a beber até cair? Fora adolescentes enlouquecidos para entrar na vida adulta e que vêem nisso um rito de passagem eu  não conheço ninguém em sã consciência que queira passar por isso. O lado ruim? É que eu me sinto meio que deixado de lado,  visto que não participei nem do “trote solidário”, que é uma espécie de integração. E por que não participei? Parece que no dia da matrícula perguntaram para os calouros se eles queriam participar do evento, e, como você pode perceber pelo uso da palavra “parece”, ninguém me perguntou nada. Acho que me acharam velho demais para ser bicho…

Assim sendo, resultou que houve aulas onde eu fui e boa parte da turma não apareceu. E a última aula em que isso ocorreu foi justo a turma de Cálculo A, já que tive a sorte de chegar meia hora atrasado na aula e ver meus colegas saindo pelo Campus Central da UFRGS em fila indiana num estado deplorável. Chego na sala e vejo que o professor nem se abalou com o auê todo e mandou ver no conteúdo. Assim, fui lá, copiei o que foi passado no quadro e na hora do intervalo fui embora, já que as aulas de Produção de Texto ainda não começaram. E, no que eu estava indo embora, encontrei meus colegas pedindo esmola, e ao me ver já perguntaram “Teve aula???”. Foi nessa hora aí que senti que já estou com uma certa fama de CDF… Bem, confirmei e já tasquei “Mas não te preocupa, que vou passar minhas anotações a limpo e depois passo para a turma”. Nada como querer ser simpático, não?

Pois é, e é nessas que a gente se rala. Afinal, como passar a limpo equações? Texto puro não tem problema, mas equações é uma mão de obra desgraçada. Mas, enfim, fui eu que me comprometi, então o negócio é não reclamar e fazer logo. Primeiro pensei em usar o editor de fórmulas do OpenOffice, mas confesso que acho o resultado final meio medonho. E posso dizer o mesmo do editor de fórmulas do Word. Assim, como fazia um tempinho que eu estava querendo aprender a usar o LaTeX achei que essa era a oportunidade. Contudo fui dar uma olhada em como fazer um documento inicial simples e vi que ia precisar de mais de um dia para dominar aquela coisa lá. Então, o que fazer?

A resposta veio na forma do jsMath. É uma biblioteca javascript que permite que você coloque equações em páginas web, equações essas que seguem o formato TeX. Com isso pude trabalhar normalmente num texto em HTML, como estou acostumado, e pude acrescentar as fórmulas matemáticas desejadas,  com um resultado bem agradável de se ver 🙂  Além disso, ainda usei uma outra biblioteca javascript para adicionar gráficos ao documento, o Flot, de forma que a página ficou bem completa.

Assim, editei as fórmulas e já estou repassando para os colegas. Sinto que vou ficar com mais fama ainda de CDF, mas fazer o quê? É como falam: do nosso destino a gente não escapa.

Update: uma colega me mandou um comentário por email que eu acho válido colocar aqui por ser outro ponto de vista sobre essa minha retomada dos estudos, mesmo ficando vermelho com o puxão de orelha do começo da mensagem. Segue:

Colega, nem toda pessoa que passa pelo trote sujo é um adolescente louco querendo entrar na vida universitária, às vezes a gente só não quer ficar conhecido como “o chato que não quis socializar”. E tinha gente mais velha no trote também, assim como vi essas pessoas sendo convidadas pro trote solidário no dia da matrícula. Tu pode ter chegado depois deles começarem a perguntar, pode ter mudado de lugar, pode ter ido no banheiro, ou pode ter sentado próximo do local onde os acompanhantes estavam. Enfim, a moral é, com um monte de possibilidades, por que tu escolhe acreditar na que te deixa mais desconfortável? Achei nossa turma bem variada de idades, acho que tu não devia pensar tanto nisso. E olha, não menti quando disse que teu trabalho foi ótimo, se depois disso tudo tu ainda quiser justificar certas coisas por causa da idade, justifique o teu trabalho, que com certeza por esse fator pode ter sido bem melhor do que o trabalho que muitos da gurizada vão conseguir fazer.

Desculpa, tu mandou o link e tomei a liberdade de ler teu blog e tentar comentar, mas como os comentários estão desativados, vim mandar um e-mail mesmo, porque acho importante tu saber como os outros estão lidando com isso e não só a tua impressão. Espero ter aliviado um pouco teu pensamento!

É, tenho que trabalhar melhor  essa crise dos 40 que está aparecendo… Obrigado pelo email 😉

Posso sorrir?

Fui fazer o Cartão UFRGS. Vou lá, entro na fila, o atendente – um senhor já um tanto avançado na idade – vai chamando e só fala “é primeira via?”, “RG por favor”, “sente-se ali”, “coloque seu dedão aqui”, “por favor aguarde uns instante” e “próximo”. Foi assim com quem estava na minha frente, foi assim comigo.

Estou então esperando o cartão ficar pronto quando chega uma moreninha baixinha, bonitinha de rosto e com um par de seios digamos que um tanto quanto avantajados. E um decote que os exibe em todo o seu esplendor. O atendente pergunta “É primeira via?”, manda o “RG por favor” e pede para ela sentar para tirar que ele tire a foto. Ela senta, se ajeita, estufa o peito e pergunta:

– Posso sorrir?

O atendente então esboça o primeiro sorriso do dia e de forma suave responde:

– Pode sim, minha filha. Pode sim.