Craque

Quem me conhece sabe que eu não gosto de futebol. Nunca gostei. No colégio eu era obrigado a jogar futebol na aula de Educação Física e eu simplesmente me fazia de morto em campo. Ok, eu era um bom zagueiro, digno representante da escola “canela é bola”, e mandava com toda delicadesa de um bico as bolas para fora do campo. Se fosse longe melhor ainda, já que o jogo demorava assim para recomeçar. Além disso era comum me botarem no gol, o que não era uma boa idéia, já que ali eu não me esforçava muito. No mais, eu era um péssimo jogador, tão ruim que em 13 anos de Dorothéa eu consegui fazer apenas UM gol que não foi contra. Até hoje me lembro a cara de espanto dos meus colegas quando me viram fazer movimentar o placar. Isso foi lá no terceiro ano do segundo grau (sim, o fato do segundo grau hoje em dia se chamar ensino médio mostra que já estou ficando velho) e foi algo que me redimiu perante o colégio. Até hoje desconfio que o goleiro, o Henry, fez alguma coisa para aquela bola passar entre as traves. Eu sozinho era ruim demais para conseguir fazer um gol. Não, eu não me lembro como foi o gol, só me lembro de ver todo mundo no pátio de boca aberta.

Outra coisinha a meu respeito: quase nunca lembro dos meus sonhos. Invejo muito quando alguém chega e diz que sonhou assim assim assado e dá detalhes de como eram as roupas dos bichinhos felpudos que corriam debaixo dos pés. Realmente invejo. Talvez isso explique o fato de eu ser meio excêntrico, de fazer algumas coisas estranhas de vez em quando, de gostar de ouvir músicas esquisitas: eu tenho que ter alguma coisa de surreal na minha consciência senão eu enlouqueço de vez. Para o meu azar eu não sou uma pessoa criativa, senão virava escritor e criava meus próprios sonhos. Volto a afirmar: é raríssimo eu me lembrar de um sonho.

Pois bem, e eis que hoje o Brasil jogou contra a Argentina. Sim, perdeu. Por 3 a 1. O Leonardo deve estar dando pulos de alegria, já para mim isso não diz nada. Como já disse não gosto de futebol. Ok, ok, eu confesso: gosto das provocações, das picuinhas que há entre as torcidas de futebol, daquela coisa de se criar provocações dizendo que colorados para se dirigir ao Beira-Rio tem que pegar a linha Tristeza enquanto os gremistas para ir ao Olimpico tem que pegar a linha Glória. Mesmo sendo colorado (isso graças ao meu pai) eu tenho que reconhecer o humor inteligente nessa provocação. Sim, eu gosto desse tipo de coisa, tanto que quando vi essa chamada no Clarín não pude deixar de sorrir: El brillo propio de la Selección apagó a las estrellas de Brasil. Vamos lá, caro compatriota brasileiro, você não pode negar que esse é um título bonito, não? Tem poesia e humor, tira sarro dos nossos jogadores que jogam sobre tamancos e ainda brinca com a nossa bandeira, que beleza!

Tá, ok, mas o que afinal futebol tem a ver com sonhos e o que essa relação tem a ver com Brasil e Argentina? Bem, é que esses dias eu consegui lembrar de um sonho ao acordar. Foi um sonho rápido, entre o despertar provocado pelo rádio-relógio e os famosos mais 5 minutos que a gente se dá antes de pular da cama já atrasado. Pois bem nesse sonho eu estava jogando futebol na seleção brasileira contra a Argentina. E eis que eu fiz um gol, um golaço na verdade, daqueles que eu vejo na TV e mesmo não gostando de futebol tenho que reconhecer que a coisa realmente foi bonita. Fiz um gol e saí comemorando para, ali no meio do sonho, olhar para o Maradona chorando, a torcida brasileira comemorando, os meus colegas vestindo a camisa canarinho vindo sorrindo na minha direção e eu me tocar que havia algo errado. Parei no meio do campo e me perguntei: Mas que diabos estou fazendo aqui?

Daí eu acordei.

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