A mágica dos percentuais

IDG Now – IR: 99,94% usaram Windows para declarar

Das 20,5 milhões de declarações do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) deste ano, 99,94% foram feitas na versão para o sistema operacional Windows, da Microsoft.

Apenas 0,03% das declarações foram entregues pelo programa para Linux e 0,02% para o sistema operacional Mac OS, da Apple.

Outros sistemas operacionais representaram 0,01% das declarações entregues até 29 de abril.

É interessante ver como números relativos podem fazer algo parecer que não é… Quem lê a notícia acima pode até pensar que o investimento feito pelo Ministério da Fazenda para fazer uma versão multiplataforma em Java para o programa de declaração do imposto de renda foi dinheiro jogado fora. Afinal “apenas” 0,03% das declarações foram feitas em Linux, “apenas” 0,02% das declarações foram feitas em Mac, “apenas” 0,01% das declarações foram feitas em computadores com outros sistemas operacionais. “Apenas” 0,06% das declarações não foram feitas em computadores rodando Windows. “Apenas”. Contudo, se a gente for olhar para números absolutos vamos ver o seguinte: “apenas” 61.500 das declarações foram feitas por usuários Linux, “apenas” 41.000 das declarações foram feitas por usuários Mac e “apenas” 20.500 declarações foram feitas por usuários de outros sistemas. Oras, de “apenas” em “apenas” temos nada mais nada menos que 123.000 declarações feitas em sistemas não Windows. De fato 123 mil declarações num universo de 20,5 milhões é uma merreca, mas não é um número pequeno não.

O problema é que de “apenas” em “apenas” acabamos nos deparando com notas absurdas como essa da Veja, que foi publicada a umas duas semanas atrás:


Primeiro a coisa toda é um samba do criolo doido (aliás essa expressão entra na lista das expressões politicamente incorretas? Bem, enfim, azar…) . Para começar misturaram disponibilização com obrigatoriedade. De onde foi tirada a idéia de que o governo quer obrigar os usuários a usar Linux ou coisa do gênero? O governo pode, quando muito, é decidir que dentro dos órgãos públicos se vai usar esse ou aquele software, mas não dizer que a população vai usar isso ou aquilo. Segundo: esse sistema (que por sinal não é livre, já que não vem com o código-fonte junto) desenvolvido para sistemas não Windows foi feito em Java, o que quer dizer uma coisa: multiplataforma. Ora, quando se faz um sistema multiplataforma o que você está fazendo é justamente livrar o contribuinte da obrigatoriedade de usar um determinado sistema operacional. É por essas que me choco quando vejo que tem gente que leva a revista Veja a sério…

Mas enfim, o caso é que, mesmo com apenas 0,06% das declarações feitas em sistemas não Windows, vale a pena o investimento por parte da Receita sim. Afinal, quem não duvida que no futuro uma associação como, por exemplo, a Federacon não crie uma distribuição Linux para os seus associados? Vale lembrar que muitas das declarações que são feitas são feitas não pelo próprio contribuinte, mas sim por contabilistas. Ou seja: o contribuinte pode até estar usando um Mac ou um PC com Linux em casa, mas o contador dele não.

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