Forca

Estadão: Para combater o aquecimento global, Chile abole a gravata

SANTIAGO – Autoridades chilenas instruíram os funcionários públicos a não usar paletó e gravata, para que os escritórios possam poupar energia no ar condicionado. O governo espera que a iniciativa privada siga o exemplo, disse a vice-ministra da Economia, Ana Maria Correa. O Chile é um país de sociedade conservadora, onde os homens normalmente vestem-se de modo formal para trabalhar.

De acordo com o governo, 215.000 aparelhos de ar condicionado foram importados desde 1997 e, no verão, podem responder por até 60% do consumo de energia em locais de trabalho.

O plano contra a gravata e o paletó veio da Comissão de Eficiência Energética do governo.

“Recomendamos que os homens deixam de lado os paletós e gravatas”, disse o diretor do grupo, Nicola Borregaard. “Esperamos que todos os setores sigam a recomendação, para que se torne hábito nacional”.

O maior grupo privado do Chile, a Sociedade de Desenvolvimento Industrial, uniu-se à iniciativa. Depois de comunicar o fato, o presidente do grupo, Bruno Phillippi, tirou a gravata.

Pois é, aplausos pro Chile. Se lá, que é frio, já se consome um catatau de energia elétrica para tornar a roupa suportável é de se imaginar o quanto se gasta aqui no nosso Brasil varonil. Mas, enfim, o caso é que não é de hoje que se questiona o uso de tal tipo de traje pelos lados de cá. Talvez o questionamento mais radical foi o realizado pelo arquiteto Flávio de Carvalho, lá em 1954 na sua Experiência número 3:

A Experiência número 3 consistiu em um passeio pelo centro de São Paulo com uma roupa unissex, por ele concebida, pensando na elegância, comodidade e higiene do verão das grandes cidades. Ele criou este estilo de roupa por duas razões: primeiro, ele acreditava que era necessário criar uma moda unissex, como consequência do já existente nivelamento entre homens e mulheres; ambos deviam dividir o mesmo tipo de roupa. Segundo, ele acreditava que era necessário criar um tipo de roupa para executivo adequado para os trópicos. Ele estava convencido de que as roupas deles — ternos europeus de tecido de casimira inglesa ou brim — eram impróprios para o calor do verão, porque não tinham ventilação e eram portanto anti-higiênicos. Apesar da brutal diferença climática, a moda brasileira insistia em imitar o estilo dark europeu, adotando pesados casacos, chapéus de feltro, calças de lã e gravatas largas e compridas.

Assim Flávio de Carvalho criou um estilo de roupa com buracos na altura do sovaco que permitia a renovação do ar entre o corpo e o tecido e enquanto o movimento das pernas permitiam a renovação do ar entre a saia e as pernas. O colarinho devia ser largo e não devia obstruir a circulação do sangue. Sua existência era apenas para psicologicamente favorecer a quem sofria de complexo de inferioridade. As meias mais adequadas eram as do tipo arrastão que ele encontrou em uma loja de balé. Sua função era a de esconder as veias que certas pessoas têm. A jaqueta bem aberta tanto na cintura como no colarinho permitia a circulação vertical do ar dentro da roupa. Para a sandália, como não teve tempo de pensar em nada exclusivo, adotou um modelo comum.

A inusitada roupa de Flávio de Carvalho provocou choque e muita controvérsia em São Paulo. Desta vez não era a Igreja nem a Polícia que se sentiam agredidas por suas performances, mas os homens em geral. Ele deixou a própria imprensa perplexa com a sua proposta. Alguns acreditaram que ele era um louco, outros que era um homossexual exibicionista. Ele desfilou pelas ruas pelo menos duas vezes, como atestam duas fotos apresentando modelos de blusa ligeiramente diferentes, e em uma, ele exibe um chapéu branco. Na primeira, Flávio de Carvalho é seguido por uma multidão de homens curiosos, incrédulos e fascinados pela elegância do performer, que apesar da saia e da meia arrastão, não demonstra nenhuma feminilidade em seu andar. Numa das fotos, Flávio, de braços dados com um solidário motorista ou cobrador de bonde, atravessa a rua descontraidamente, também seguido por um número de inquietos e curiosos homens.

Pior é que a roupa, mesmo com os bons argumentos para se usar ela, foi feita realmente para chamar a atenção. Sejamos sinceros: você, seja homem ou mulher, sairia de casa com uma roupa dessas?


Como se pode perceber pelo jeito a intenção do cara era só chamar a atenção mesmo. Duvido que ele acreditava que alguém ia usar essa roupa feia de forma séria…

Bem, enfim, o caso é que não tinha gravata. 🙂

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