Pl4yer

Devido ao RSSficado vou ser um dos próximos Players da revista Entretenimento Eletrônico. Uma coisa que eu achei legal é que lá na capa do site foi colocado um formulário para fazer perguntas. Assim, se você tem uma dúvida sobre o projeto, para que serve RSS, se isso é roubo ou não de informação, essas coisas, fique à vontade para perguntar lá 😉 Vou tentar responder na medida do possível.

Seja direto, por favor

Acabo de passar por uma situação no mínimo chata. Alguém ligou para o meu celular e quando fui atender começou com aquele papinha: \”Oi? Aposto que você não está reconhecendo a minha voz…\”. Foi ela falar isso que o celular apitou avisando que estava acabando a bateria e puff, foi-se a ligação. Consegui um recarregador para descobrir que o número da chamada não ficou registrado. Quero dizer, não tenho certeza se o último número ali cadastrado é o número que me ligou, já que quando atendi me pareceu ser o número de um telefone comum, não de um celular. Então, agora, estou eu tentando ligar para esses celular aí mas ninguém atende… Pior que sei que tem alguém do outro lado pois volta e meia dá ocupado.

Daí fica a pergunta: quando é que as pessoas vão aprender que quando se liga para um celular tem que ser breve e ir direto ao assunto? Se eu soubesse quem é a pessoa agora poderia estar ligando para ela e rindo do fato de ter acabado a bateria. Mas não, ela não se identificou e ligo para o celular e ninguém atende. Agora essa pessoa deve estar achando que eu desliguei na cara dela. Saco…

Auto-exílio

Hoje é um daqueles dias que eu gostaria de me distanciar de tudo, de ir morar num lugar bem longe, de fazer um regime radical e perder 50 quilos, de me tornar outra pessoa. Dia que gostaria de ter a voz do Leonard Coehn. Dia de querer desligar o computador e procurar outro emprego, de viver a vida fazendo outra coisa. Dia de querer morar numa cidade fria onde o sol quase não bate, com pessoas silenciosas porém amistosas, que com olhares dizem tudo o que deve ser dito, sem precisarem usar palavras. Dia de querer silêncios, ventos gelados no rosto e olhos descançados. Dia de querer ser um pouco mais feliz, aceitando algumas coisas do meu jeito de ser e mudando outras que tem que ser mudadas.

Ilha das Flores

Pois é, acabo de descobrir que, graças à Petrobrás, o melhor filme brasileiro de todos os tempos, que foi com justiça aplaudido de pé durante 10 minutos no Festival de Berlim de 1990, está disponível na rede:


Ilha das Flores

Obra-prima do Jorge Furtado e da turma da Casa de Cinema de Porto Alegre, Ilha das Flores é daqueles filmes que numa visão rápida pode parecer chato, mas é só para aqueles que estão com pressa mesmo. É uma prova que cinema brasileiro pode ser bom, sem precisar apelar prá putaria gratuita.

Fantasmas na gaveta

Seguem abaixo dois motivos para entender porque não sou escritor. Acho que escrevi esses dois contos lá por 95, 96, não lembro direito, mas o fato é que são os dois melhores. Imaginem então os piores! São coisas que a gente encontra na gaveta da gente e que nunca tem coragem de jogar fora…

Cancioneiro da sexta-feira padrão

O álcool desce pela garganta rasgando mas pouco me importa: eu tô mais é a fim de festa, tô pouco me lixando para o que podem falar de mim amanhã e a noite hoje é minha. Minha! Não devo nada para ninguém, não tenho necessidade de acordar cedo então que se danem e me deixem em paz. Vou ficar ali no meu canto, com o meu whiskyzinho esperto, olhando o movimento e as gatinhas. Tipo aquela ali, que coisinha preciosa. Que peitinhos! Tô a fim de chamar ela prá sentar comigo, mas e se for putinha? Bem, se for uso a lábia velha de guerra e vai de graça mesmo. Sabe como é, primeiro dá um whiskinho, pois whisky é sagrado para comer mulher, leva no papo e… pera aí, pera aí, ela tá indo embora… e com cabeludo… Pô, assim não dá! Mas tudo bem, vai ver que era mais uma desmiolada que anda por aí, dessas que a gente come e depois tem que sair correndo prá não ter que agüentar o papo… Além disso tá cheio de gatinha aqui hoje. Olha só aquela ninfetinha! Luciana Vendramini tu não tá com nada, olha só, olha só… ela beijando na boca outra guria! Essa não! Sapatão, uma coisa fofa daquelas? Hmmm, bem que eu podia tentar, já que duas na cama… Não, não, a ninfeta é um estouro mas a outra… Se descuidar o comido sou eu. Ô Alemão, me traz mais uma dose. Assim não dá, não dá, ah! deixa prá lá eu não vou ficar aqui me martirizando por causa de uma pescocinha fanchona. Tem outras, tem outras. Vou só ficar bicando, que assim que uma morder a isca cráu tá feita a festa. Posso não comer, mas que eu fico eu fico. Ô gatinha! Vem cá! E aí? Tudo bem? Como é que uma princesa como você tá sozinha aqui no meio dessa plebe? Ah, que é isso tesouro, fica vermelha não, coisinha linda como você não… o que foi cara? Ei, tira a mão, tá pensando o quê? Tá pensando o quê? Como assim a guria é tua, não vê que tá comigo? Sai prá lá cara! E quer saber? Leva essa vagabunda junto contigo, que se tu levar chifre é porque tu quer! Ê, tá pensando o quê? Tá pensando o quê? Vai encarar? Vai pro teu canto animal, que eu não tenho nada a ver com os teus rolos… Diabos, a vadia enxugou o meu copo! Ô Alemão! Que que é que tá acontecendo comigo hoje? Não tá dando nada certo, caralho! Oi Fernando, o que conta? Pois é, pois é, aqui a coisa tá meio parada. Hmn que foi essa confusão agora a pouco? Ah, foi uma vaca que se engraçou pro meu lado debaixo do nariz do namorado. É! Quase levo porrada por causa de uma putinha. E aí, que conta? Tem um tijolo? Quanto? Ih meu, tá caro! Além do mais não tô a fim de fazer a cabeça. Um pega? Bem, aí pode ser… Ô Alemão, segura as pontas aí que eu já volto! Não, não, eu volto logo. Peraí! E a Marcinha, como vai? Quê? Acabaram? Mas assim… Uhmmmm, tô sabendo, tô sabendo… Sei, sei… Começa com essas historinhas de enjôo ali, dor de cabeça aqui e quando tu vê tá pai de um guri que não tem nada a ver contigo. Tá certo, tá certo, tem mais que dar um chute na bunda mesmo antes que seja tarde. É, acho que aqui a barra tá limpa. Esmurruga aí que eu fico de bico… Isso. Pfffffffffufffffffff… É, essa é da boa. Dá outro pega. Do caralho. E aí, vamos voltar? Vai ficar por aqui? Tá certo, amanhã te procuro. Té mais… E aí gurizada? E aí Alemão! Voltei, não voltei? Eu sou de fé cara! E me vê mais uma dose. Uh, minha cabeça tá que tá. E saca só aquele brotinho! Tá na minha, tá na minha! Será que… não, outra com namorada seria muito azar… Isso, isso, vem prá cá… Oi! Tudo bem, e com você? Legal. Mas senta aí. Tá a fim de uma bebidinha? Tudo bem. Ô Alemão! Você quer o quê? Traz um Steinheger, Alemão! Isso! E tu, chegou agora que não te vi antes? Sei, sei… casa do estudante… E? Sei… os velhos papos, revolução, Marx, Engel. É, concordo contigo. Esses carinhas pararam no tempo e… Como? Claro, claro! Ô Alemão, mais um Steinheger! Pois é, continuando, esses carinhas pararam no tempo e não se tocaram disso ainda. O mundo não é o mesmo de 1917. Agora é tudo livre mercado, mercado comum, governo não tem nada que ser dono de empresa que… Como? Pois não! Ô Alemão, mais um Steinheger! Mas… ãh! Tão te chamando? Quem? A tua amiga? Peraí, tu vai aonde? Ei, fica aí, eu te levo depois. Não, não é um incômodo não… Tá, tchau… Vai com Deus, vai… Puta! E esponja ainda por cima. Três Steinhegers em menos de 10 minutos! Isso deve ser um recorde… E quer saber? Eu vou é prá casa dormir. Ô Alemão, fecha essa conta aí, antes que um puto de um veado apareça na minha frente. Ô, que cara é essa Alemão? Ei, calma, calma, tô pagando. Eu não quis ofender, calma, tô indo embora. Como é que eu ia saber que tu era bicha Alemão?

Flor da idade

Sabe quando dá um quebranto assim no coração e você se sente apequenado diante do resto do mundo? Pois é, era assim que eu me sentia, compadre Hermenegildo, até que apareceu essa dondoca cheirando a flor de laranjeira que é a Amília. Pois sei, pois sei, eu sei que tô velho demais prá guria, mas fazer o quê? Não é você que enviuvou assim de cabrera, quando a sua Dona Marcília tava na flor da vivência, com todo o respeito. Mas deixa eu contá como peguei a preázinha prá mim, vivente, e deixa de fazer essa cara de quem chupou manga verde.

Pois então lhe conto. Tava voltando lá da estância quando vi que num dos meus potreiros a peonada tava toda alvoraçada. Pensei na hora pronto, tão aprontando mais uma com as minhas éguas, você sabe como é essa gurizada né compadre. Me aproximei de mansinho prá pegá toda a tropa no flagrante e não é que dou de cara com essa moleca estendida num pelego, peladinha como bunda de galinha poedeira?!? Ela não se assustou nem um pouquinho, parecia que até tava me esperando. Já a gurizada sumiu tudo que num chiste. Tive pena do garoto Rebardino, que tava no meio das pernas da guria e saiu correndo de bombacha arriada e tudo.

Eu sei compadre eu sei… Eu devia ter colocado a vagabunda prá correr compadre, mas… é que tu não viu a potranquinha! Quando ela viu a gurizada se mandando é que ela começou a se preocupar. Afinal, o senhor sabe que sou conhecido como sendo uma fera. Mas na hora… Eu vi aqueles olhinhos pretos de noite estrelada, aqueles peitinhos que pareciam duas bergamotas pedindo para serem comidas, aquela chauasca, opa, perdão, a intimidade dela entreaberta como porteira de estrebaria e não resisti: ignorei a idade e meti as esporas na égua.

Agora ela tá aqui em casa. Pois é, eu sei… eu sei… tá mais que certo que ela é cheirosinha, maciazinha, tudo que você pode pensar de bonito numa fêmea, mas você sabe também que ela não presta. Toda a noite ela sai por aí prá ir se roçar com um peão qualquer… Mas, se quer mesmo saber, a mim pouco importa. Eu tô velho, não vô fica nesse mundo muito tempo mesmo e, com o devido respeito com a velha que tá lá na estância do céu: mesmo sendo chamado de corno eu vou é me fartar!