Universo Paralelo

Fui hoje no primeiro dia do Fórum Internacional Software Livre 2001. A primeira palestra foi com o Timothy Ney, executivo da Free Software Foundation. Boa parte da apresentação dele foi um histórico da FSF, explicações sobre o que é o GNU e qual é a diferença entre a licença GPL e as demais ditas Open Source (BSD, Apache, Mozilla, etc…). Para quem não sabe, todo código sob a GPL, quando copiado, torna o código que recebe a porção do código em código GPL também: isto é, você pode pegar pedaços de códigos abertos para colocar no seu projeto, mas esse projeto passa a ser aberto também. Outra coisa: caso você faça uma alteração no código do software e for redistribuir essa alteração, deve ser fornecido o fonte junto. Um detalhe que é muito importante é que se for feita alguma mudança e essa mudança for apenas para uso interno da sua empresa, a distribuição do código alterado não é obrigatório. Ou seja: podemos continuar usando código-fonte alheio nos nossos projetos, mas temos que levar em conta que caso queiramos distribuir um desses projetos temos que distribuir o código-fonte junto. Sinceramente? Nada mais justo. Não podemos simplesmente agir como parasitas e ficar pegando código dos outros sem dar nenhuma contribuição. O problema é explicar isso pro departamento jurídico da empresa onde a gente trabalha…

Logo após saí para almoçar com o Rubens Queiroz de Almeida, da Dicas-l, e com o Alessandro de Oliveira Binhara, coordenador do GU OpenSystem, de Curitiba. Eu não sabia, mas esse grupo de usuários tem mais de 1.000 inscritos. Caramba!!! Foi muito legal da parte dele me repassar dicas sobre como formar um grupo e como levar um projeto desses adiante. Já entrei em contato com o pessoal da LinuxPOA para ver se eles estão a fim de almoçar quinta-feira com o cara (se ele aceitar, é claro). Foi engraçado ver o espanto do Queiroz com a quantidade de pessoas que estão inscritas no GU. Nem parecia que ele é o coordenador de uma das maiores listas técnicas do Brasil… 🙂

A segunda palestra foi com o Kenneth Coar, um dos coordenadores do projeto Apache, e que foi contratado pela IBM só para continuar trabalhando para o Apache Group. O ponto principal da palestra dele foi explicar que o desenvolvimento do Apache é baseado num sistema distribuído, onde qualquer um pode mandar contribuições. Essas contribuições serão analisadas por outros desenvolvedores e acrescentadas ao projeto, caso aprovado. O interessante é que para ter poder de voto você deve primeiro se mostrar merecedor de tal privilégio, e para isso você deve primeiro enviar contribuições para o projeto. Depois de um tempo, além de ter poder de voto você pode ainda se tornar membro do “core team”, participando da definição de tarefas do grupo. A isso eles chamam de meritocracia. Outro aspecto importante é que o Apache é distribuído sob a Apache Licence, baseada na licença BSD, e não sob a GPL. Segundo o Coar, o pessoal do Apache Group não se importa se alguém pegar o código deles e criar um produto baseado nesse código. Salientou que eles ficarão chateados, é verdade, mas vão respeitar a vontade da pessoa. Mas ele destacou que o sucesso do servidor Apache tanto em termos de qualidade como em números de usuários se deve ao fato do seu código ser aberto.

A terceira palestra foi sobre Caos Criativo, com o Rubens Queiroz, o Eduardo Maçan (do grupo de desenvolvedores do Debian) e o cantor Lobão. O Rubens explicou como surgiu a lista Dicas-l. Mostrou ainda o sistema Rau-Tu, que se destina a ser um espaço onde voluntários explicam para novatos com dúvidas “como fazer” (how-to, em inglês). O sistema Rau-Tu é distribuído sob a GPL, e foi feito o convite para todos baixarem e testarem. Logo em seguido o Maçan explicou como se dá a distribuição peer-to-peer de arquivos utilizando sistemas como o Napster, o Gnutella e o Freenet. Chamou a atenção que, com execessão do Napster, pode-se trocar todo e qualquer tipo de documento eletrônico, fugindo da forma tradicional via www. Aí entra o Lobão, que falou não apenas de MP3 mas de formas alternativas de divulgação, assim como da estrutura atual de distribuição de discos aqui no Brasil. Pode não parecer nada a ver com software, mas tem muito a ver com uso de tecnologia para divulgação fora dos grandes esquemas tradicionais.

A quarta e última palestra foi com representantes de universidades gaúchas, falando sobre o uso que está sendo feito de software livre. Mereceu destaque a Univates, de Lageado, que está migrando os seus sistemas administrativos para sistemas feitos in-house e disponibilizados depois na Internet sob a licença GPL. Assim, além de informatizar os seus laboratórios com Linux, eles estão desenvolvendo o Sagu (Sistema Aberto de Gestão Unificada), o GNUTeca (para bibliotecas) e o GNUData (um banco de dados regional), entre outros projetos. O representante da Univatis chamou a atenção que o desenvolvimento contou com a ajuda de programadores de outras instituições de ensino, o que ajudou a criar um software bom a um preço baixo para a instituição. Outra coisa importante: graças à liberação do código-fonte, a universidade passou a ser conhecida nacionalmente, o que acabou tornando os projetos em poderosas ferramentas de marketing para a instituição. Pois é, meios alternativos num universo paralelo.

Mas merece destaque o fato de ter cruzado com uma série de pessoas conhecidas esse ano. A figura mais legal é o Eugênio Hansen, que conheço desde o tempo da Poanet quando ela era hospedada na UFRGS. Outro com quem cruzei foi o Luciano Goulart, um dos criadores do GU Tchê Linux. Além disso, na sessão de perguntas da palestra sobre Caos Criativo, uma das participantes se identificou como sendo a Carla Schwingel, estudante do programa de pós-graduação de comunicação da UFBA. Ops, Carla Schwingel??? A Carla da lista Cibercultura? Pois é, depois de ficar trocando emails com ela durante anos finalmente fiquei conhecendo pessoalmente a figura, que reza a lenda foi a primeira gaúcha a ter uma página pessoal na Internet. Muito legal ela, me contou algumas coisas bem interessantes, tais como o bafafá que uma mensagem minha provocou lá na UFBA ano passado. É que eu andei criticando o pessoal já que eles ficavam lendo muito figuras como o Pierre Levy sem se dar ao trabalho de ouvir as pessoas que são os agentes da cibercultura, como o Richard Stallman. É gozado saber que uma mensagem me deixou com a fama de ranzinza por lá :)))

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