Ciao! Detroit

Foi em 1994 que eu vim morar pela primeira vez em São Leopoldo. Estava estudando na Unisinos, trabalhava lá como monitor no laboratório de informática e ficava matando o tempo junto com os bolsistas da pesquisa. Nessa época fui morar numa pensão ao lado da prefeitura, e costumava a noite ir no Mac Bar, geralmente levando um livro. Então, em 1996, voltei para Taquara, onde trabalhei em um provedor de acesso até, em 1997, me convidarem para trabalhar como webmaster na Unisinos, o que fez com que eu voltasse a São Leopoldo. Na Unisinos acabei ficando 11 anos e depois saí para a ADP e de lá acabei indo para uma incubada no Pólo de Informática da Unisinos. E assim foi até mês passado, quando fui chamado para trabalhar no Serpro como concursado.

E de 1997 até 2000 morei em duas repúblicas, transitando pelo Mac Bar (sempre com um livro debaixo do braço), bebendo umas que outras com os colegas de apartamento. Aos poucos essa gurizada foi voltando para casa, indo embora, botando o pé na estrada, e assim foi até ir morar sozinho em um JK na rua Marques do Herval.  Passado um tempo descobri perto do prédio um bar, um tal de Br-3, e passei a frequentar o lugar. Foi ali que a minha vida começou a ficar realmente divertida. Até então eu ia levando a vida, fazendo uma festa aqui, outra ali, mas foi ali que eu passei a viver o que a Viana Moog maravilhosamente definiu como sendo a boêmia adolescente após os 30. Foi a época que eu conheci pessoas muito legais, que eu participei d’O Apanhador e do Gordurama, que fiz muitos amigos e que me renderam alguns dos dias mais felizes da minha vida, tanto que volta e meia eu largo um Volta 2003! para o vazio.

E foi justamente em 2003 que eu comprei o ap da Saldanha da Gama. Nessa época o Br-3 já tava indo por água abaixo, mas tinha o 356 para as festas mais comportadas e o Bar do Podrão (aka Andar de Cima) para as festas mais malucas. Foi nessa época que o conceito São Leopoldo-Detroit ficou mais forte do que nunca. Não tinha festa ruim por aqui. Em todas havia um sentimento de urgência e uma alegria que se sentia no ar. Era uma época de exageros e uma época de definições. Era uma época de auto-destruição e crescimento, onde valia a máxima de que a estrada do excesso conduz ao palácio da sabedoria. Forçado? Pode ser, mas para mim 2003 foi um marco, e foi com tristeza que vi nos anos seguintes a magia aos poucos se ir.

Em 2004 o Casarão abriu, e foi para ali que as festas migraram, até o ponto que ele se tornou uma ilha isolada, visto que todos os outros bares tinham fechado. O Ateliê Zumbi andou junto por uns 2 anos, mas não durou muito tempo, e até 2006 era lá na esquina da Independência com a João Neves da Fontoura que a festa rolava. Foi ali que eu comecei a namorar a Taila, e a gente costumava vir pra casa dormir até as 2, 3 da madrugada para ir lá dançar. Foi nessa época que eu mais me diverti brincando de DJ, e acredito que muita gente gostava do som que se colocava. Mas como tudo que é bom acaba e na metade de 2007 já não havia mais Casarão.

E depois do Casarão? Bem, tinha o Seventy Pub (que não durou muito) e o Armazém San Lou. O Pop Cult apareceu em Novo Hamburgo. E em São Leopoldo apareceram o Jockey Club e a Embaixada do Rock. E é nesse ponto que estamos hoje, e sinceramente dá uma pena ver que a coisa não é mais a mesma. Se em 2001/2003 havia uma certa cena (pequena, focada em poucas bandas e alguns zines, mas mesmo assim uma cena), nesse final de década não há nada. Ok, faz tempo que não vou no Pop Cult, mas essa é a situação de São Leopoldo. É algo triste de ver. Para se ter uma idéia até o Mac Bar morreu, afundado pelos traficantes…

E é nesse clima que aparece esse emprego em Porto Alegre. Com um salário bom, tão bom que posso me dar ao luxo de alugar um apartamento na Cidade Baixa, de forma que estou deixando Detroit. Ok, a Taila já me disse que Detroit não existe mais faz tempo, mas mesmo assim eu sempre queria ver ela de novo, queria poder sair às 3 da madrugada no sábado e ver gente se divertindo como se não houvesse amanhã, mas não vejo mais isso. E não é porque os antigos boêmios ficaram mais velhos, mas sim porque se vê que esses boêmios não deixaram herdeiros, não souberam manter os lugares onde todo mundo confraternizava, enlouquecia, se divertia. Hoje as festas parecem apagadas, sem aquele brilho que havia. Talvez seja impressão minha, essa idéia de que houve uma TAZ por aqui… Mas enfim, o caso é que estou de mudança, estou indo para uma nova casa (nem tanto atrás de festas, mas sim de conforto). Então, é isso que me resta:  me despedir de São Leopoldo, e agradecer à essa cidade que me acolheu muito obrigado pelos anos de ótimas lembranças que ela me proporcionou.

Ciao! Detroit