Que puxa…

Há 3 semanas tive uma derrota moral: tive que ir comprar roupas em uma loja para tamanhos especiais. Sim, roupas para quem está muito, mas muito gordo, gordo de uma forma que nunca estive antes. Gordo a ponto de temer pela própria vida e lembrar o que eu escrevi isso no primeiro post desse blog em 2001:

Que fique anotado: estou com 1m71 e 96kg e essa situação tem que mudar. Estou praticamente entrando na casa dos 30 e até hoje não me preocupei em tornar-me uma pessoa mais saudável.

Isso foi há 12 anos, e o que aconteceu de lá para cá? Mantive minha altura, mas em compensação consegui ultrapassar os 130 kgs. Sim, em vez de ter perdido aquele excedente de 16 quilos que eu tinha para a minha altura na época o que eu fiz foi engordar  de forma absurda. Como isso?

Não é fácil responder. É meio que uma mistura de relaxamento da minha parte, stress por conta das pressões do meu trabalho, médicos onde não pude continuar com o tratamento por problemas financeiros, depressão, médicos que me receitaram remédios errados (em vez de perder gordura perdi massa muscular magra) e por aí vai. Não é uma resposta simples, mas de qualquer maneira sinaliza um fato: para mim os anos 00 foram divertidos, mas não deveriam ter sido divertidos na mesa.

E agora? O que fazer? Depois de comprar aquelas roupas me senti elegante, porém com aquela sensação de que eu estava tapando o sol com uma peneira. Eu não deveria me sentir elegante, eu estou longe de estar elegante, eu estou na verdade em uma condição perigosa que não afeta só o meu visual mas sobretudo a minha saúde, eu tenho que fazer alguma coisa para mudar isso.

E resolvi fazer algo. Já consultei vários médicos, já recebi dietas e mais dietas (acompanhadas ou não de remédios) e me recuso a uma medida extrema do tipo tirar uma parte do meu estômago. Assim, seguindo a sugestão de conhecidos, resolvi aproveitar o fato de que não gosto muito de massas e congêneres e resolvi adotar uma dieta low-carb, no caso a Dieta Dukan. E por que justo essa? Basicamente porque ela tem dois pontos que achei interessante:

  1. tirando uma fase inicial de poucos dias não busca emagrecer rapidamente, mas sim ser um processo constante até chegar no peso ideal;
  2. uma vez chegado no peso ideal ele não acaba, mas prossegue até a consolidação desse peso, evitando assim o efeito sanfona.

Além disso, há outros aspectos que eu gosto, tipo não ser muito tolerante com gorduras (como é o caso da dieta paleolítica) e não restringir a quantidade de alimentos.

Então, decidida a dieta, calculei qual seria o meu peso ideal (87 kg, o que daria um IMC acima do peso), o tempo que levaria para chegar até ele e o resultado foi esse:

dukan-crp

Sim, 731 dias. Olhei para isso e nada me restou a fazer do que dar um suspiro e dizer “é, não tem jeito…”. Afinal, se eu não levar em conta o período de consolidação o que vai acontecer é o que aconteceu nesses 12 anos de dietas recomeçadas: o efeito sanfona vai ser mais forte e meses após algum regime vou constatar que estou mais gordo do que antes.

E agora é dia 17/12. Já passei pela fase de ataque, onde fui de 130 para 125,6 quilos e já estou na fase de cruzeiro. Tenho uma caminhada longa pela frente, e os primeiros passos já foram dados.

J’adore comemora: A Ida pra Gráfica

Fui convidado pela Pamela Morrison e pelo Eduardo Flores para colocar som no evento J’adore comemora: A Ida pra Gráfica. Foi uma experiência muito legal, afinal a última vez que eu havia discotecado a experiência não foi das melhores (era uma festa de aniversário de 3 pessoas, então os convidados de quem me convidou gostou, já os outros…). O caso é que fui muito bem recebido pelo pessoal no MEME Santo de Casa Estação Cultural e tudo correu bem. O setlist da noite foi o seguinte (maior parte dessas músicas podem ser encontradas no SoundCloud e no Rdio ):

  • Samba de Coco Raízes de Arcoverde – Ê Boi (Maga Bo Remix)
  • Balkan Beat Box (feat. Victoria Hanna) – Adir Adirim
  • DJ Rayo – Serenata De Mar (ft Oye Beto)
  • Soraia Drummond – Sorriso Forte Na Luta
  • Maga Bo feat. Rosângela Macedo and Marcelo Yuka – No Balanço da Canoa (Process Rebel Remix)
  • Polymiller – Tropical Digital
  • Rafael Aragón – Shâamaàn (Native Dub)
  • Gipsy Sound System – Luptic (feat Ziveli Orkestar)
  • Abayomy Afrobeat Orquestra – Malunguinho
  • M. Takara 3 – Rei Da Cocada
  • Lata – Ladis Dub
  • Red Hot & Fela – Lady (tUnE-yArDs, uestlove, Angelique Kidjo + Akua Naru)
  • Sonido Guay Neñë – Oye Mi Negra (Copia Doble Systema Remix)
  • Janis Joplin vs Medicine Head – Mercedes Benz (extended remix version)
  • Indian Grooveland – La Danza De O Buaie (Bside Remix)
  • Talib Kweli Dead Pprez J Ben – Shuffering and smiling
  • Criolo – Bogotá ( Lizzie Remix )
  • Buraka Som Sistema – Bota (ft. Karol Conka)
  • Branko – Going in Hard (feat. Dominique Young Unique)
  • Gilberto Gil & Jorge Ben – Taj Mahal (Psilosamples Ilegal Remix)
  • Buraka Som Sistema – Voodoo Love (feat. Sara Tavares and Terry Lynn)
  • Mia – Bamboo Banger
  • Wado – Jejum & Cavaleiro de aruanda
  • Baiana System – Terapia
  • Bataclã FC – Amigo Frank (Cholly remix)
  • Elza Soares – Two Tac
  • Vanessa Da Mata – Eu Sou Neguinha (Coimbra & Ramilson Maia Remix) (Radio Edit)

E como se pode ver estou deixando o rock de lado… Meio que cansei, sabe?

Cinco discos da minha vida

Esse post teve origem na Poplist, onde os membros da lista estão postando, cada um, os cinco discos mais representativos na sua vida. Bem, comemorando então meu aniversário de 41 anos, que foi comemorado ontem, eis a minha lista… 🙂

Tenho uma relação estranha com discos. Volta e meia eu adoto um como trilha sonora dO momento, sem necessariamente ser a trilha sonora dE momentos. Assim, quando eu olho para trás vejo que tive períodos na minha vida em que eu estava feliz e a trilha sonora era de cortar os pulsos, enquanto vivi momentos tristes onde ouvia sem parar músicas alegres. Assim, quando fui fazer a lista fiquei na dúvida se deveria privilegiar discos que me marcaram musicalmente ou se deveria ficar com os que representaram um período da minha vida. Resolvi fazer uma lista híbrida, o que fez com que alguns dos meus discos preferidos ficassem de fora. Assim, Björk acabou não entrando na lista assim como Nick Cave e Arcade Fire, mas isso não quer dizer que os discos deles não sejam menos importantes na minha vida. Só que senti que deveria contar sobre esses discos aqui:

Nova História da Música Popular Brasileira – João Bosco e Aldir Blanc

Na segunda metade da década de 70 a editora Abril lançou a série Nova História da Música Popular Brasileira. Cada volume continha a biografia de um ou mais artistas, ilustrado com belos desenhos feitos por Elifas Andreato, e um disco de 10 polegadas, que além das principais músicas ainda haviam peças não tão conhecidas mas que mereciam destaque. O meu pai costumava comprar os volumes dessa coleção e eu costumava passar, lá pelos meus 9, 10 anos, horas e horas ouvindo os discos e lendo sobre os artistas. A parte que eu mais gostava de ler era a primeira contracapa, onde ficava uma breve nota sobre cada música, explicando quando tinha sido a gravação, com quem e porque ela tinha relevância. Foi por essa coleção que eu conheci Caetano, Vinícius, Gilberto Gil, Mutantes, Raul Seixas, Cartola, Luiz Gonzaga, Novos Baianos, Hermeto Pascoal, Milton Nascimento, Candeia, entre outros, além de ter contato com a música caipira de raiz, os precursores da Bossa Nova e a valsa brasileira do século XIX. Uma verdadeira escola de música. E esse volume sobre a dupla João Bosco / Aldir Blanc podia não ser o melhor de todos, mas era um dos que eu mais gostava, não só pelo fato das músicas serem mais “agitadas” e “divertidas” (afinal eu era uma criança) como “De frente pro crime”, mas também por conter canções como a belíssima “Casa à raposa”, interpretada pela Elis Regina, assim como aquela que deve ser a melhor estreia de um artista na história da MPB: “Agnus sei”.

Destaques: Agnus sei, com João Bosco e Caça à raposa, com Elis Regina.

Lee Jeans presents Lee Original Country Music

Esse foi o meu primeiro disco. Simples assim. Eu devia ter uns 11 anos quando a Lee resolveu lançar essa coletânea de música country que tinha como destaque na propaganda a música The Baron, do Johnny Cash. Até então eu gostava de música e tudo mas nunca tinha insistido junto aos meus pais para ter um disco. E assim eu fiquei um bom tempo pentelhando eles até que lá fomos nós comprar um jeans Lee para poder ganhar o disco. Lembro que na hora de comprar as calças eu só vi se eles serviam bem no corpo (nessa época eu já era gordinho) e nem prestei atenção se ela era bonita ou não, e que quando cheguei em casa fui direto ouvir O MEU DISCO e fiquei várias e várias vezes ouvindo a primeira música (justo a do Johnny Cash) a ponto de gastar a faixa. Das outras músicas eu nem lembro muita coisa, já que country é um ritmo que nunca me fisgou, com exceção daquela primeira faixa lá.

Destaques: The Baron, do Johnny Cash e Deep inside my heart, do Randy Meisner

Talking Heads – Fear of Music

Na metade dos anos 80 eu morava em Taquara/RS, que fica a uns bons 70 kms de Porto Alegre. A distância pode ser pequena, mas era suficiente para a cidade ser “do interior” (hoje ela faz parte da região metropolitana, mas nem por isso deixou de ser interiorana), com as suas consequências do tipo lojas de disco com poucas coisas diferentes dos top 10 das paradas. E, além das poucas ofertas, ainda havia a questão do preço, de forma que comprar um vinil não era tão simples. Bem, felizmente houve um período na história da cidade em que comprar disco não foi uma sangria: foi em 1986 durante o Plano Cruzado, onde com os preços congelados e sem ágio (ao contrário da comida) foi possível comprar discos a rodo. Foi nessa época que comprei vários discos, indo por Legião Urbana, Capital Inicial, Engenheiros do Hawai, e por aí vai. Como se pode perceber era principalmente rock nacional. E a maior parte dos discos foi comprado não em loja de disco, mas sim nas Lojas Colombo, que vendia eletrodomésticos. Explico: junto da sessão de equipamentos de som havia uma estante de discos, que serviam para “acompanhar” o aparelho recém vendido. Por vezes, dependendo do que era comprado o disco ia até de brinde, para o cliente já poder mostrar para a família a sua nova aquisição. Bem, eu não sei quem é que fazia a seleção de discos da Colombo, mas o caso é que sempre haviam uns discos meio estranhos ali, que fugiam daqueles que estavam no topo das paradas, e esses discos costumavam ser baratos, quase a metade do preço do LP em uma loja de discos normal. Bem, certo dia estava eu dando uma olhada ali naqueles LPs e vi um de uma banda chamada Talking Heads com uma capa totalmente maluca e com quatro pessoas usando roupas bizarras na contracapa chamado “Little Creatures”. Como não havia como ouvir os discos (quem comprava um aparelho de som podia) a compra era no escuro. Naquele caso resolvi arriscar (afinal parece que eu já havia lido alguma coisa sobre a banda na revista Bizz) e levei para casa. Cheguei, ouvi e gostei muito do disco. Gostei tanto que lembrei que havia outro disco da banda a venda na Colombo e fui correndo comprar antes que alguém levasse ele. Chego em casa todo feliz, ingenuamente do alto dos meus 15 anos esperando ouvir outra And she was, mesmo com a capa preta do disco já me avisando “não é bem o que tu tá esperando guri…”, quando sou arremessado contra a parede por I Zimbra. De repente sou apresentado a uma nova realidade, a um mundo completamente diferente, que foi ficando cada vez mais rico de detalhes à medida que o disco ia tocando. Eu ia ouvindo e ficando cada vez mais surpreso. Como é que podia haver algo assim tão pop e tão experimental (vale lembrar que na época eu já conhecia Hermeto Pascoal, Walter Franco, esses maluquetes da MPB) ao mesmo tempo? O que querem dizer esses ruídos de fundo? Como assim essa distorção aí é para dar ritmo à música? Como alguém conseguia fazer aquilo? Como é que ninguém me falou desse disco? Será que existem outros discos como esse? Onde eu encontro essa música? Quem mais faz esse tipo de música? EU TENHO QUE SABER ISSO! EU TENHO QUE CONHECER MAIS! EU TENHO! É, se eu tive um momento de iluminação na minha vida foi esse, e quando o disco fechou com “Drugs” eu não era mais a mesma pessoa.

Destaques: Mind e Drugs

Radiohead – Ok Computer

São Leopoldo, 1998. Nessa época eu levava uma vida muito besta: a grana no bolso era pouca e aos 27 anos eu vergonhosamente ainda recebia uma ajuda dos meus velhos para me manter; as opções de lazer eram poucas; eu não conhecia quase ninguém na cidade e as que eu conhecia não estavam lá muito melhores na vida do que eu; estava na época terminando a Unisinos, depois de quase 3 anos trancado, e aquelas últimas cadeiras estavam se arrastando, já que o assunto não me interessava e eu não conhecia nenhum dos meus colegas; e por aí vai. Era uma época em que eu ficava no MacBar esperando conhecer novas pessoas, já que os amigos que eu havia feito em 1994 já tinham se formado e voltado para as suas cidades. Para ajudar a minha vida sentimental também estava horrível, e essa foi uma fase em que eu realmente me senti sozinho. O que havia de bom é que eu na época morava numa república, e não mais numa pensão, de forma que eu não me encontrava tão sozinho assim, e acho que foi isso que me salvou de ficar com depressão na época.Outra coisa boa é que eu tinha saído novamente de Taquara, depois de ter voltado para a casa dos meus pais e ter morado lá durante um ano e meio. E foi nesse período que em um certo dia de outono eu cheguei com o Ok Computer em casa. Juro que não consigo me lembrar de onde e como eu comprei o disco. Lembro que foi uma compra às cegas, movido pela lembrança de comentários que diziam que aquele tinha sido considerado o melhor disco de 1997. Eu nunca tinha ouvido uma música que fosse do disco, não tinha a menor idéia de que banda era aquela, já que na época eu estava completamente alheio ao que estava acontecendo no mundo da música (a única coisa que eu acompanhava na época era o Pato Fu…) e desconhecia completamente o shoegaze (ok, eu conhecia e gostava de Jesus & Mary Chain, mas não acompanhava em nada do que eles estavam fazendo e as bandas que eles influenciaram), acreditando que o mundo tinha sido completamente dominado pelo grunge e pelo revival da disco music, onde a Björk apontava o caminho para o que havia de bom na época. Assim, quando vi o disco numa loja de discos resolvi arriscar e ver o que é que tinha ali. Lembro de chegar em casa, colocar o CD para tocar e eu me instalar no colchão no chão da sala que servia de sofá, só me guiando pela luz do poste em frente à janela. O tempo era levemente frio como convinha a uma noite de outono e não havia ninguém em casa além de mim. Eu nunca fui de prestar atenção em letra de música, para mim o casal voz e letra é mais um instrumento musical que qualquer outra coisa, e mesmo no meu inglês precário sem entender nada do que o Thom Yorke estava cantando eu conseguia saber do que ele estava falando, conseguia ver que ele descrevia perfeitamente aquela fase que eu estava vivendo, e consegui ver que mesmo na tristeza havia uma beleza enorme, que devia ser desfrutada. Foi uma noite estranha aquela, onde eu fiquei vários dias meio chapado com o impacto do que eu havia ouvido, e que acabaram por me tirar da apatia que eu estava.

Destaques: Subterranean Homesick Alien e Climbing Up the Walls

Viana Moog – Boemia Adolescente Após os 30

Há uma passagem em High Fidelity em que Laura, a namorada do Rob Fleming, está lendo uma lista dos empregos perfeitos que o Rob tinha feito. A opção que encabeçava a lista consistia em ser jornalista da NME Express entre 1976 e 1979, seguido por produtor da Atlantic Records entre 1964 e 1971. Basicamente as duas opções consistiam em ser o cara no emprego certo na época certa no local certo, convivendo com as pessoas certas. Você já imaginou frequentando as festas do CBGB? Pois então, se Nick Hornby morasse no Rio Grande do Sul nos anos 2000 certamente ele iria acabar escrevendo um livro sobre São Leopoldo. Não que a cidade possa ser comparada a Nova Iorque, mas o caso é que ali, no começo da década, é que havia coisas acontecendo, e em 2001 eu comecei a frequentar o BR-3, local onde praticamente tudo acontecia. E o que aconteceu naquele bar (e continuou ainda um pouco depois no Casarão) foi incrível. Várias bandas, zines (só eu participei de dois: O Apanhador e Gordurama), artistas plásticos, todos se encontrando e vivendo um vida intensa, uma TAZ, algo que fugia completamente do marasmo que estávamos mergulhados. E a banda que melhor sintetizava o espírito daquela época era a Viana Moog com a sua distorção, sua adoração a Humberto Efe e suas letras minimalistas. Os shows que eles faziam no BR-3 eram simplesmente incríveis, loucura espalhada em decibéis. E esse disco, mesmo com os vários problemas de gravação que ele tem e que acabam por esconder a força da banda, é o melhor registro do espírito dessa época. A época certa no local certo que eu vivi.

Destaques: Totalmente Alien e Virna Lisi

Link para download dos MP3s das músicas: 2shared

O que realmente importa

Há certas coisas que volta e meia devem ser lembradas, e, entre essas, está um fato: não importa o que eu tenho ou conheço mas sim quem eu sou. É realmente importante lembrar disso, visto que muitas vezes as pessoas se baseiam no que as pessoas tem ou conhecem para dizer quem é a pessoa, e isso é errado.

Ter algo não diz respeito a quem a pessoa é. Ela pode até se iludir pensando que por ter uma casa, ou um carro, ou uma jóia, ou um iPod, ou qualquer outra coisa, ela é diferente da pessoa que era antes. Não, ela continua sendo a mesma, sem tirar nem por. Ter algo pode ser fruto da dedicação ou da sorte, e diz mais respeito a esses dois fatores do que a definição de nossa personalidade.

Já conhecer é questão de interesse e dedicação, e mostra que a pessoa que procura se informar é no mínimo curiosa. Mas, ao contrário do que se pensa, conhecimento não diz respeito à sabedoria. Sim, há pessoas que diante de determinada informação acordam para determinados fatos e com isso crescem, mas na grande parte das vezes o que se vê é gente de grande conhecimento agirem de forma realmente estúpida. Eu pessoalmente cansei de ver doutores viajados, que dominam quinhentas línguas, agirem de forma arrogante. Conhecimento não é sabedoria. Sabedoria é reflexão e empatia.

E ser, o que é? O que nos define como pessoas? Ainda não sei direito, mas a cada dia que passa fica mais claro para mim que a resposta não está no que eu tenho nem no que eu conheço, mas sim na forma como eu ajo em todos os momentos.

Já comi

Ontem no Sarau Elétrico foi oferecido o novo livro da Cláudia Tajes para quem contasse alguma história sobre um velho safado. Ninguém foi. Como o nome do livro é Por isso eu sou vingativa, foi ofertado então o livro para quem contasse uma história sobre vingança. De novo ninguém foi. Aí ficou aquele impasse até que um baixinha loira foi lá e contou uma historinha de velho safado. Eu até tentei da minha parte lembrar de uma história sobre um dos assuntos, mas nada. Fui só lembrar mais tarde, quando já estava indo para casa, o que é uma pena… Enfim, para não esquecer mais, creio que vale a pena contar aqui, já que mistura velhos tarados E vingança:

Em Taquara havia um ponto no centro, ali na esquina da Júlio de Castilhos com a Rio Branco, onde os aposentados da cidade se encontravam para falar besteira. Era o tradicional “Já comi”, em homenagem à frase mais proferida pelos velhinhos que lá ficavam. Não podia passar um rabo de saia que fosse que invariavelmente um dos velhos safados se manifestava, expondo que em um momento passado houve momentos de desbunde e esbaldo com a rapariga. E isso era com todas as mulheres que passavam, não importando idade, cor, nada.

Bem, eu não testemunhei o ocorrido, mas sim um amigo, que me contou que um belo dia estava ele perto do grupo quando viu uma garota bem nova passando, sendo seguida do tradicional bordão. Nesse momento uma mulher que estava passando por perto saiu a desancar o grupo, chamando a todos de idiotas, que aquilo era uma pouca vergonha, que eles não podiam sair manchando a reputação das pessoas assim, que aquela guria até na igreja ia e por aí vai. Literalmente meteu a boca no pessoal. Então, no que ela foi embora, saiu o seguinte diálogo:

– Mas o que deu nessa mulher? – perguntou um, no que outro retrucou:

– Pois é, culpa minha…

– Como assim?

– É que já comi… – e completando com maldade na voz, lascou – E mal.

Mais um herói que se vai

Esse mês de outubro de 2011 está danado… Primeiro foi o Steve Jobs que se foi, agora o Dennis Richie. Se o Jobs ajudou a popularizar a informática, o dmr foi o cara que praticamente criou a base da informática como a conhecemos hoje. Ele foi, entre outras coisas, co-autor de duas coisinhas: o Unix e a linguagem C. Sobre o Unix é incrível ver como um sistema criado em 1969 resiste ao tempo e ainda se mostra como uma das melhores soluções já criadas, seja na sua forma “pura” seja através de seus clones e derivados (Linux / MacOS X). E no que diz respeito ao C nem há o que comentar: praticamente TUDO é feito em C, seja de forma direta, seja através de compiladores para outras linguagens que são feitos em C. São raras as implementações de linguagens onde o compilador ou o interpretador não são feitas em C ou em C++ (que é derivado do C).

É, não é todo mundo que pode chegar e dizer “esse troço aí funciona porque muito do que eu criei serve de base para ele”, e o dmr era uma dessas pessoas, com a característica de que ele era um cara humilde, que dizia que se não fosse ele seria outro que teria criado tudo o que ele criou. Uma pessoa rara, sem dúvida.

1955-2011

Toda revolução tem que ter alguém para dar o primeiro passo. E a revolução do computador como ferramenta acessível para a grande maioria das pessoas veio de Steve Jobs. Isso é um fato. Se ele pegou a idéia dos outros (no caso dos pesquisadores do Xerox PARC) e botou numa embalagem bonita para vender não interessa, o fato é que ele teve a coragem de fazer isso e, dessa maneira, ele recriou o mercado de computadores pessoais, mercado que ele ajudou a criar quando, 10 anos antes, ele passou vender micro-computadores pessoais já montados. Sim, antes computadores pessoais eram kits que tinham que ser soldados pelos compradores.

Eu devo a muitas pessoas o fato de ter me tornado um profissional da área de informática, muitas mesmo. Foi por conta do trabalho delas que hoje eu tenho aqui na minha frente uma das mais poderosas ferramentas já criadas pela humanidade. Não, não estou exagerando! É só parar e olhar o que era o mundo a 40 anos atrás para ver como os computadores mudaram esse planeta. E não foram computadores imensos, monolíticos, como os pensados por Asimov e Clarke que fizeram a mudança, mas sim computadores de todos os tamanhos, se comunicando entre si. E boa parte desses computadores seguiam um preceito: serem ferramentas para pessoas comuns, não para engenheiros. Preceito esse ditado por uma pessoa em especial, e que foi mais que copiado por seus concorrentes.

E é aí, nesse ponto, que digo que hoje morreu um dos meus heróis. Ele não foi o melhor programador do mundo (até porque ele não era), não foi o melhor designer do mundo (até porque ele não era), ele não foi o melhor engenheiro do mundo (até porque ele não era). Ele foi tão somente a pessoa que se cercou de algum dos melhores programadores, designers e engenheiros e deu a eles uma visão de um produto que podia mudar a vida das pessoas. E assim o fez.

Obrigado mais uma vez Steve. Muito obrigado mesmo. Descanse em paz.

Es un eco en las montanas

Para mim uma das melhores bandas de todos os tempos é o Talking Heads, banda responsável por dois dos melhores discos de todos os tempos (Fear of Music e Remain in Light), além de uma série enorme de canções antológicas, como Burning Down The House, The Lady Don’t Mind, And She Was, Road to Nowhere e Psycho Killer (que eu não acho a melhor música deles, mas com certeza é a mais conhecida).

Bem, levando em conta isso, dá para entender porque eu fiquei indignado com o David Byrne quando ele veio para Porto Alegre no começo dos anos 90 para lançar um disco de… MAMBO! Sim, fiquei irritado com isso, e nunca parei para ouvir o Rei Momo com calma. Sempre ouvia por cima e voltava a me irritar. A única música que eu tolerava ali era Loco de Amor, que fez parte da trilha sonora do filme Totalmente Selvagem, de 1986.

Até hoje.

E vou dizer: grande disco! Não é a melhor coisa que o David Byrne fez, mas é um disco e tanto, que vale a pena ser conhecido. Foi uma iniciativa que, pensando bem, foi bem corajosa da parte dele. Afinal, ele era um nome altamente conceituado do art-rock e desbandou justo para ritmos que estavam praticamente marginalizados no cenário pop da época. Aliás, é interessante ver que a salsa, ritmo de Loco de Amor, foi criado em Nova Iorque:

A salsa nasceu nos bairros de Nova Iorque por volta dos anos 1960 e é uma espécie de adaptação do cumbia da década de 1950. Recebeu ainda influências do merengue (da República Dominicana), do calipso de Trinidad e Tobago, da cumbia colombiana, do rock norte-americano e do reggae jamaicano. Hoje, é uma mistura de sons e absorve influências de ritmos mais modernos como rap ou techno. A dança é caracterizada pelo compasso quaternário.

Salsa, em castelhano, significa “tempero” e a adoção do nome quis transmitir a ideia de uma música com “sabor”. O movimento que originou este novo estilo de música latino-americana começou em Nova Iorque, quando um grupo de jovens músicos começou a mesclar sons e ritmos visando a criar uma sonoridade que tivesse um “sabor” latino-americano.

Isso explica como é que a música foi pano de fundo para a abertura de Totalmente  Selvagem, onde eram mostradas imagens da cidade, algo que para mim era meio que sem sentido… Mas enfim, divago. O caso é que finalmente, 20 anos depois da jornada davidbyrniana pela música latina, eu pude curtir o trabalho dele, ver a beleza por trás de canções como Good and evil e Woman vs. man e me deliciar com The call of wild.

Você não! Doutor!

Certa vez, na época que as matrículas na Unisinos eram presenciais, ocorreu o seguinte diálogo:
Atendente: – Olá, que disciplinas você deseja?
Aluno: – Você não! Doutor!
O atendente olhou pro aluno, olhou para a ficha dele e viu que era um formando em Direito. Ele então botou a planilha de lado e perguntou:
– Doutor? Por favor, qual foi a tese que o senhor desenvolveu?
O aluno engasgou, gaguejou e o atendente só puxou a planilha de volta e mais uma vez disse:
– Olá, que disciplinas você deseja?

Pois bem, o atendente estava mais do que certo.

Rumos

Há meses a Taila fica falando que eu deveria fazer aulas de canto e aprender um instrumento… Confesso que depois da crise de insônia de hoje, vendo no Youtube um monte de gente tocando e cantando naquele clima meio cabaret, fiquei com vontade de investir nisso. Então, se eu já estava pensando em reduzir o número de cadeiras lá do curso de Administração Pública (afinal estou fazendo o curso por hobby, não para ficar me estressando com um provável diploma) o negócio é comprar meu piano elétrico (retomando as aulas paradas aos 9 anos de idade) e estudar. Na pior das hipóteses vou parar de deixar meus amigos angustiados quando me ponho a cantar…

E se eu tenho voz aguda (quando eu na verdade gostaria de cantar como o Nick Cave ou o Tom Waits) fazer o quê? O negócio é explorar como faz o Filipe Catto.